O apartamento estava mergulhado em uma penumbra avermelhada, como se a própria noite tivesse se tingido de desejo contido.
Do lado de fora, o som distante da chuva batia nas janelas, ritmando o compasso de algo que ainda não havia começado, mas já estava no ar — invisível, pulsante.
Ela o esperava, o corpo envolto por um vestido leve, o perfume de morango quase imperceptível dançando pelo ar.
Quando ele entrou, não houve palavras. Apenas o olhar. Um olhar que reconhecia, que sabia, que prometia.
Na mesa, repousavam três objetos simples — uma venda de pelúcia, algemas vermelhas e um pequeno frasco de gel de massagem.
Cada um parecia carregar um segredo.
Nada precisava ser dito. Ela sabia que o gesto viria antes da explicação.
Ele caminhou até ela, lentamente.
A venda deslizou entre os dedos dele antes de cobrir seus olhos.
O mundo, então, se apagou — e o silêncio ganhou textura.
Sem a visão, ela começou a ouvir o som do próprio coração, o roçar do tecido, o respirar dele ao se aproximar.
O primeiro toque foi tímido, um rastro de calor líquido na pele, espalhado com a ponta dos dedos.
O gel de morango parecia transformar o ar em melodia; o aroma doce misturava-se ao calor crescente do ambiente, tornando o tempo algo quase palpável.
Cada gesto era uma promessa, cada pausa, uma confissão muda.
As algemas se fecharam nos pulsos provocando uma sensação — não de aprisionamento, mas de entrega.
Não havia medo, apenas rendição à confiança.
Os dedos frios dele contrastavam com o calor da pele, e esse contraste parecia traduzir o próprio mistério do amor: firme e delicado, forte e vulnerável.
Por instantes, nada aconteceu — ou talvez tudo.
O toque se tornou palavra, o silêncio se tornou grito contido, e ela percebeu que havia algo mais profundo do que o desejo: o poder de estar completamente presente, mesmo sem ver, sem mover, apenas sentir.
Quando ele, enfim, retirou a venda, o quarto parecia outro.
As sombras se misturavam às respirações, e o tempo havia deixado de existir.
Nada foi dito — porque o essencial não precisava de voz.
No fim, apenas o aroma de morango ficou no ar, doce e breve, como um segredo que o amanhecer não ousaria revelar.
